Acalme-se, jovem publicitário de esquerda
Não está havendo, necessariamente, um enriquecimento absurdo em cima do seu trabalho.
Segunda, 01 de julho de 2024.
Ed. 66. Ano II.
Preciso começar esse texto com muita cautela depois desse título. Sim, está havendo uma expropriação do seu trabalho, uma vez que você vive no capitalismo. Como você sabe eu sempre me declarei como uma pessoa de esquerda, por acreditar e defender pautas dos trabalhadores desse mercado, e também questões como direitos humanos, diversidade e inclusão, e tantas outras coisas.
Mas, sem dúvida, ao longo do tempo, até por uma ingenuidade nessas batalhas, eu também reforcei nos primeiros anos criando conteúdo essa separação entre chefia e chefiados. Eu tinha um discurso muito próximo ao: “lideranças ganham muito mais do que você para resolver os seus problemas, rebele-se” rsrsrs (eu juro que eu nunca falei com essas palavras, mas só pra demonstrar um ponto aqui).
Eu deixo de acreditar nisso? Não. Se vivemos em um capitalismo, sim, sua chefia ganha mais que você, a chefia dessa pessoa, por sua vez, ganha mais que ela, e assim sucessivamente. O meu ponto então está ligado a nossa crença de que o “inimigo” são essas pessoas que estão acima da gente, e acabarmos projetando todas as nossas questões com o mundo do trabalho, em nossa supervisão direta.
Eu sei que pode parecer um pouco utópico, mas o que eu passo a entender depois de meus anos jovens de rebeldia (rsrs), é que se eu projetar na minha supervisão direta as minhas questões com o sistema, fica muito mais difícil batalhar por melhorias. Ok, aquela chefia ganha 500, 1000, 2000 reais a mais que eu? Sim. Mas também porque ela está há mais tempo no mercado, ou porque tem outras responsabilidades (ou porque sim, é amigo dos donos etc, e isso também rola, infelizmente).
Mas não é dessa expropriação do trabalho que falamos quando dizemos em mudar esse sistema. Essa pessoa é tão parte do proletariado quanto você. E aqui, como estamos falando de publicidade, vale a ressalva de que, dependendo do lugar que você está, uma agência de, sei la, 50 ou 100 pessoas, talvez nem o/a CEO ganhe MUUIIITO mais que você. Ganha mais? Sem duvida, mas não proporcionalmente ao tamanho da nossa raiva com o sistema, entende?
Eu posso te garantir que o/a CEO de uma empresa de 100 pessoas, não ganha 100 vezes mais que um analista júnior. (Daí a razão por eu defender mais transparência de salário. É para ajudar a própria alta liderança, mas daí é papo pra outra edição).
Quero ser bem cuidadoso, pois, sim, existem empresas que isso pode ocorrer. Mas na maioria delas, agências independentes, ou mesmo partícipes menores de grupos, não rola isso. E se a gente projetar todas as nossas questões, em pequenas empresas onde o salário progride de 500 em 500 reais a cada subida de cargo, fica muito mais difícil criar as alianças necessárias pra buscar um espaço de trabalho melhor.
Eu sei o quanto isso soa utópico, e pode ser lido como uma contradição com tudo o que já defendi aqui, mas esse é um dos meus aprendizados ao longo do tempo, que me ajudaram a me aproximar de lideranças para batalhar por mais melhorias, e não afastá-las.
Bom, eu não pretendo mudar a forma de disputa de ninguém no mercado de trabalho. Nunca tive essa pretensão, afinal eu também sou um cara branco, cheio de privilégios, e poder modular o discurso também é um deles.
Mas essa foi a minha forma de conseguir criar mais diálogos e alianças. Não acho que isso funcione pra todo mundo, mas tem me ajudado a ser menos rebelde e mais estratégico. Torcendo pra você também encontrar a sua melhor forma de disputar.
Até semana que vem.
NÃO ACABA AQUI.
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