O processo de concorrência virou uma fábrica de burnout
Já pensou um gráfico que cruzasse a CID do burnout com o número de concorrências que cada agência entra?
Segunda, 24 de junho de 2024.
Ed. 65. Ano II.
Eu participei de poucas concorrências na vida, mas já ouvi reclamação de muitas. Eu lembro que em algum momento na história eu trabalhava em uma agência que atendia uma conta de governo do estado. E outras 5 agências também dividiam essa conta (que já tinha chegado na agência através de um processo de concorriencia). Pois bem, eu lembro exatamente do dia que chegou a notícia que a partir dali, todo o trabalho que ultrapassasse R$8 mil de verba de produção ou mídia, deveria haver uma concorrência interna, entre as cinco agências, para saber quem desenvolveria.
Você consegue imaginar alguma coisa que precise alcançar um estado inteiro, que não seja R$8 mil reais? Nesse dia, eu lembro com clareza de no mínimo 2 pessoas chorarem.
Processos de concorrência podem ser bem desafiadores. Muita pressão, prazos curtos, e especialmente, uma incrível sensação de descartabilidade caso o seu projeto não vença. Mas, além disso, a gente precisa colocar nessa balança quantas pessoas saem adoecidas pós processos de concorrências. Dados que antes não considerávamos. Eu queria MUITO ter um dado que cruzasse concorrência com adoecimentos mentais.
No histórico da propaganda moderna, saúde mental é ainda só uma vírgula, um pontinho de atenção. Vivemos os últimos 100 anos da publicidade ignorando que as pessoas adoeciam e como isso impactava em produtividade. Pô, eu queria mesmo poder cruzar as maiores agências em número de participação de concorrências, com os de atestado com o CID de Burnout entregues.
A gente está falando de um processo que coloca, nos casos mais absurdos, 15 agências a trabalharem simultaneamente, com uma entrega de uma campanha/conceito fictício. Na maioria dos casos a pauta normal dessas pessoas que participam não param, afinal, contratar uma equipe extra apenas para a concorrência nem faria muito sentido se não são eles que tocariam o trabalho internamente caso ganhem (mas acontece tb). Tudo isso com um prazo apertado e com a imensa sensação de que, E SE NÃO GANHAR, eu perco o emprego? Essa conta não fecha.
E tem gente que gosta dessa pressão, e curte participar. E tá tudo certo. Mas é meio evidente que esse processo é feito pra exaurir. Acertar mais pela pressão do que pela inteligência. Um resíduo de um período em que a competição exagerada e a desatenção com a saúde das pessoas era um marca principal do nosso mercado. Felizmente não é mais (tão) assim. Algumas agências e portais de notícia já se permitem questionar esse processo.
O problema é que mesmo em meio a tanto adoecimento, algumas concorrências ainda podem ser bem dolorosas. Talvez no futuro tenhamos um "código de conduta” de concorrências. Algo que limite quantas agências podem participar e qual tipo de entrega é permitida, como apenas uma apresentação rápida do portfolio da agência ou coisa assim. Ou, a gente ainda vai precisar de muita pesquisa pra entender o quanto esses processos aumentam a sobrecarga e os atestados na pauta.
A revisão que precisamos é, acima de tudo, de modelo de negócio.
NÃO ACABA AQUI.
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