E se você soubesse o salário de todo mundo?
O mundo publicitário com transparência salarial
Você também já deve ter visto aqueles vídeos:
”como ficaria a Terra se as pessoas sumissem? Nos primeiros 10 minutos o C02 não produzido pelas fábricas melhoraria a situação climática em 2º. Depois de um ano as cidades teriam sido tomadas por vegetação novamente…” etc etc.
Eu amo esse estilo de vídeo. Me ajuda a pensar futuros possíveis, ou pelo menos, sonhar um pouquinho com um futuro que não vai chegar (rsrs). E aí que eu me coloquei a pensar, nesse sentido, o que aconteceria se, por algum motivo, todas as agências e empresas de publicidade, abrissem os valores dos salários de todo mundo, do dia pra noite. Tipo o que rola em cargos públicos e o portal da transparência. Já pensou?
No primeiro dia: Não teria trabalho. Se a publicidade é esse lugar que parava um turno pra fofocar sobre o que sai na planilha das agências, imagina com o salário de todo mundo aberto? Foi um dia de loucura.
No segundo dia: Passou o êxtase, fica a revolta. Agora começamos a ver pessoas revoltadas com a desigualdade. Não que ninguém soubesse que algumas pessoas ganhavam mais. Mas a discrepância era muito grande. Empresas em que o menor e o maior salário eram distantes 200 X. Tivemos demissões voluntárias. Brigas. Lideranças ~DoAnDo~ seu salário astronômico para entidades carentes. etc.
Uma semana depois: as mobilizações. Agora é hora daqueles comitês de trabalho. Grupos e comitês nas agências pra pensar como lidar com a desigualdade salarial. Nunca saíram tantos releases sobre salários altos e bônus. Casos começam a ganhar notoriedade, como o assistente que teve um aumento de 200 reais negado, enquanto o CEO ganhava um bônus anual de 1 milhão e meio no mesmo dia. Entre outros.
6 meses depois: Estudos e mais estudos aparecem. Relatórios de toda ordem fazendo cruzamento de dados entre salários e bonificações pagas e a saúde fiscal de empresas. Mas especialmente, comprovou-se o que estudos anteriores já diziam: o salário de minorias e grupos minorizados era infinitamente menor que o de pessoas brancas. Grupos que representam essas pessoas cobram mudanças.
1 ano depois: Sindicatos e associações celebram que agora os planos de carreira incluem também progressão salarial de cada cargo.
2 anos depois: Um movimento começa a acontecer: uma pesquisa descobriu que profissionais optam por trabalhar em empresas que tem seus salários mais igualmente distribuídos entre os profissionais e lideranças.
5 anos depois: As empresas entenderam que para atrair profissionais precisam ter salários dignos. Nas ofertas de vagas você já encontra o link para os salários pagos na media para aquela vaga em todas as empresas do mercado. Pesquisas mostram que as pessoas estão mais felizes com seus salários. A base passou a ganhar mais em relação a cinco anos atrás. As lideranças ganham menos, ainda assim, mais que a base. A diferença média salarial entre o cargo mais alto e o mais baixo passou para 10-8x mais. Os cargos mais iniciantes das empresas saltaram de um salário de 1500 reais para 4 mil reais na média.
E aí. Você acha esse futuro possível? Eu acho ele tão utópico quanto acreditar no fim do capitalismo rsrs. Contudo, ainda que improvável, não é impossível.
Até aqui eu te fiz crer que eu tava inventando isso da minha cabeça, mas fato é que, transparência salarial diminui, sim, desigualdade. Contudo, não significa dizer que as camadas mais pobres ficariam mais felizes, infelizmente. :(
Neste estudo, publicado no National Bureau of Economic Research em 2019, analisou-se na Noruega quase 20 anos de dados de transparência salarial no país. Sim, os dados de desigualdade salarial diminuíram ao longo dos anos, contudo, a exposição dos dados levou as pessoas que recebem menos, a se compararem mais e se sentirem menos felizes, como consequência.
Dito tudo isso, não dá pra falar de transparência salarial de forma leviana e dizer: tem que fazer amanhã e deu. Esse estudo sugere novas formas de publicização e anonimização de nomes e/ou faixas salariais, por exemplo. Eu também não acredito nessa forma de abrir um portal da transparência pra toda a empresa.
Mas certamente, algo poderia ser feito para diminuir essa desigualdade que, eu e você, sabemos, é uma constante no nosso mercado.
Vai crescer. Previsões de investimentos com publicidade em 2024
Segundo o relatório da Dentsu, que sai duas vezes ao ano, a publicidade vai crescer 4,6% em 2024. Esse é um dado muito importante pra indústria, ainda que não seja tão preciso (esse report já errou) mas ainda assim, é um ótimo indicativo. Então, se puder, leia. Foi noticiado em ABSOLUTAMENTE TODOS os veículos da nossa indústria.
Além do gasto aumentar em 4,6% (não fica claro se isso é considerando inflação ou não), tem alguns outros dados interessantes. Estima-se que o digital vai ocupar 58,8% da verba investida no ano que vem.
Além disso, as marcas vão gastar, globalmente, em média 136 DOLARES POR PESSOA ao longo do ano. Ou seja, estamos falando que cada marca vai gastar pouco mais de 600 reais com cada pessoa para atingi-las com publicidade. Isso é, nada mais nada menos, que 75% a mais do que se gastava há 20 anos.
No Brasil, o gasto com publicidade significa 0,7% do PIB. E há 20 anos atrás era 0,4%. Ou seja, o Brasil foi um dos países que mais aumentou seu investimento em propaganda, em comparação aos outros 19 países monitorados no estudo.
ASSUSTADOR: quase 70% do dinheiro gasto com mídia programática NÃO chega no consumidor
Um relatório da ANA (Associação Nacional de Anunciantes) dos Estados Unidos, analisou cerca de 120 milhões de dólares investidos em mídia programática (GoogleAds e outras formas de comprar mídia digital).
E o resultado é que dois terços do investimento que se tem em mídia programática é desperdício, simples assim. Seja com a qualidade de sites, seja com “trapaças” mesmo, sites feitos para publicidade, sites com erros etc.
A AdWeek descreveu a descoberta como “perturbadora", porque o relatório afirma que, dos 88 bilhões investidos em mídia programática no último ano, 22 bilhões de dólares, foram desperdício.
Tem inúmeros outros dados nesse sentido na reportagem e report, que analisou marcas pequenas e gigantes como Mondeléz e Farm, e tudo isso coloca uma pressão gigante nas operadoras de mídia, que precisam resolver esse inventário de baixa qualidade, e também, as taxas de operação, já que sendo que outro terço desse investimento, ficou com intermediários. Muito doido tudo isso.
Além disso, não significa que só Google precisa correr. Agências precisam tomar atitudes. Por exemplo, hoje nós subimos, *majoritariamente*, quais nossos sites que NÃO QUEREMOS que nossa marca apareça. Um jeito de melhorar essa taxa de desperdício, seria usar lista de INCLUSÃO de sites, e não só de exclusão. Mais trabalho, sim, mas menos desperdício.
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