Quantas vezes a gente tem dito a frase “Inteligência artificial não vai substituir a criatividade humana. No fim sempre vai ser sobre pessoas”? Muitas.
E eu não consigo não ouvir essa frase como um mecanismo de defesa nosso, por medo que isso de fato aconteça um dia. Sabe a primeira fase do luto? A negação?
Eu não quero cruzar limites aqui e começar a falar do que não entendo, to longe de entender sobre psicanálise, psicologia, etc. Mas eu não consigo não ver essa repetição exaustiva como um protecionismo, porque na verdade a gente vê diariamente empregos sumirem. Nossos amigos e amigas perdendo posições de empregos por conta de novas tecnologias. E a gente precisa mesmo de um alívio, né? Em eventos, palestras, entrevistas, repetir frases assim. Esperança. Para que nada seja tão apocalíptico, afinal.
Mas antes mesmo antes da IA, ouvíamos também muito a frase: “porque no fim do dia, não é sobre números, é sobre pessoas". Eu tenho certeza que você já ouviu essa frase de alguém trabalhando em publicidade. Mas de verdade. Seja o mais honesto/a que pode consigo. Tem sido sobre as pessoas?
Baseamos nossas estratégias de negócio em números de likes, de alcance, gráficos. Se uma pessoa não está performando, seus números estão baixos, é demissão, sem muito papo. Por mais humana que seja a empresa. Até pra uma pessoa ser contratada é levado em conta seus números no Linkedin. Você fica melhor colocado se tem muitas conexões e seus textos viralizam.
Esses dias tava até vendo um advogado trabalhista dizendo que tem empresas que tem a monitoria de “quantos atestados por saúde mental” cada pessoa já colocou, pra ver qual funcionário dá mais prejuízo nesse sentido. Pô, se tem algo MENOS sobre pessoas e MAIS sobre números, é isso.
Então sempre que eu ouço essa frase, eu entendo o porque a gente fala, pra dizer que nos preocupamos com as pessoas. Mas não consigo não ver como mais uma negação, sinceramente.
Eu não quero soar ingênuo, vivemos num capitalismo, etc, tudo certo. Mas porque precisamos então da promessa de que tem sido sobre pessoas, quando na verdade tem sido cada vez mais sobre números?
Você acha mesmo que, num mundo tão dataficado, metrificado, onde tudo é o número, dá mesmo pra “não ser sobre números, e sim sobre pessoas”?
Um em cada 10 profissionais de publicidade se demitiram devido à stress após concorrências.
Já faz tempo que temos falado aqui como o assunto concorrências passou a ser mais debatido nesse mercado (e com atraso). Uma pesquisa feita com mais de 1000 profissionais revelou dados muito importantes sobre isso. Infelizmente são dados sobre UK e USA. Mas não acho que nossos dados aqui seriam diferentes.
Uma em cada 10 pessoas se demitiram após processos conturbados de concorrência. 50% das pessoas reportaram stress ou burnout durante o processo. Mais de 40% disseram que gostariam de passar mais tempo tendo ideias durante as concorrencias, do que fazendo slides !!!!
Frase de um dos respondentes da pesquisa:
“Tendo passado mais de 20 anos trabalhando na indústria, a pressão das concorrências nunca mudou. Ainda envolve madrugadas, orçamento ouro/prata/bronze, três rotas (duas seguras, uma ousada), fins de semana de trabalho, sem tempo para ensaiar… e eu poderia continuar”
Se você quiser ouvir mais sobre concorrências, esses dois episódios do podcast esmiuçam o tema.
4A's e ANA incitam agências a resistirem a pagamentos de longo prazo
Pela primeira vez na história recente, entidades de classe se posicionam sobre o pagamento de longo prazo. 60, 90, 120 até 180 dias. Esse praxe é ensinado em livros de administração e finanças, para que o dinheiro fique o máximo possível sobre a tutela das empresas, assim gerando juros.
Mas não foi só isso. A associação, que defende os interesses das agências, criou um guia chamado “O efeito cascata da extensão dos termos de pagamento” (em tradução livre).
Eu recomendo fortemente que você leia. Mas se não puder, eu te dou o tom do documento: os consultores que dão falas nesse documento dizem explicitamente “agências não devem ser bancos de marcas". Além disso, o report dá exemplos de quais efeitos colaterais esses longos pagamentos trazem para a indústria, como o aumento dos preços dos serviços prestados.
Cobrar as marcas é uma tarefa difícil. Eu já relatei aqui quantas INÚMERAS vezes eu já chamei marcas para falarem no podcast, e compliance e comms sempre barram esse tipo de resposta. Então esse é um dos meus temas para os próximos anos. Falar abertamente sobre essas questões. E eu adoraria que associações brasileiras também falassem sobre o assunto, tal qual ANA e 4A's fizeram.
Aqui alguns posts nesse sentido que já rolaram no insta:
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