O medo de ficar obsoleto na publicidade
o pânico silencioso que todo publicitário sente e finge que não
Segunda-feira, 11 de abril de 2025.
Ed. 101. Ano III.
Talvez esse seja o medo que mais ronda quem trabalha com comunicação — talvez mais até do que ser demitido? - se tornar irrelevante. Ser deixado pra trás enquanto a indústria gira mais rápido que nunca. Parece que o tempo inteiro alguém está dizendo que sua função está com os dias contados, que agora o jogo mudou, que tem uma nova ferramenta, um novo cargo, um novo "jeito certo de fazer". E você, que até ontem se sentia entender sobre todos os assuntos, hoje se vê abrindo vídeos no YouTube com título "entenda o básico de…" ensinados por uma criança em algum lugar do mundo (usando esse exemplo porque é um clássico pra quem usa algum software de edição de imagem ou audiovisual).
A publicidade sempre se orgulhou de vender futuro — inovação, reinvenção, tendências. Mas o preço de viver correndo atrás do novo é sempre um esgotamento não só físico, mas também um cansaço mental de achar que você nunca sabe o suficiente. A sensação de sempre estar atrasado. Que a qualquer momento alguém vai descobrir que você “não é tão bom assim”. Sim isso está diretamente ligado à síndrome de impostor, mas é importante a gente pensar se não é essa aceleração aí que cria essa síndrome na gente, e não apenas nós mesmos.
E esse medo, que deveria ser enfrentado coletivamente, se torna um incômodo solitário. Porque admitir isso em voz alta pode parecer fraqueza. Pode parecer que você parou de tentar. Falar que não sabe sempre foi um grande tabu na nossa indústria.
E aí começa o ciclo: você demonstra interesse por assuntos que não te tocam, engole jargões que não entende só pra parecer antenado, compartilha o post do case da moda mesmo sem saber o que achou dele. Não por empolgação — por sobrevivência.
Mas será que deveria ser sobre isso? Será que não tá na hora da gente falar sobre como se manter relevante sem precisar performar reinvenção 100% do tempo? Sem ter que fingir que ama o que não te interessa só porque o mercado decretou como “o futuro”?
CLARO, vamos e voltamos. Se manter curioso, sim, é fundamental em nossa indústria e em qualquer outra — mas com uma razão clara. Com calma. Com critérios. E com espaço pra dizer: “isso aqui eu não sei ainda”, ou até, “isso aqui não é pra mim — e tudo bem”. Não precisamos saber de tudo o tempo todo e isso não deveria dizer sobre o meu comprometimento ou performance.
Não é impossível você pensar algumas respostas como: “gente, aqui esbarra no limite do meu conhecimento sobre essa ferramenta/assunto… será que temos alguém no time que nos ajudaria?”. Pô é muito melhor que você virar a noite lendo sobre o assunto ou vendo vídeos no youtube e amanhã estar virado performando ainda menos.
Até porque você não vai conseguir sustentar esse crachá de conhecedor de tudo pra sempre, uma hora você vai quebrar ou não conseguir acompanhar, e já se mostrar vulnerável vai te garantir uma vida muito mais longa nesse espaço de trabalho.
A real é que a obsolescência no mercado não vem (só) por idade, nem por tempo de casa, nem porque você não postou sobre IA naquela semana. Ela vem quando a gente para de pensar. Quando troca pensamento por protocolo. Quando esquece que é justamente a capacidade de pensar criticamente que faz a gente continuar necessário nesse lugar. E sair sem pensar dizendo que sabe sobre tudo, que tem opinião sobre tudo, não vai te posicionar dessa forma no mercado, infelizmente.
Então, da próxima vez que o medo de estar ficando pra trás bater, talvez a pergunta mais justa não seja “o que eu preciso aprender agora?”, mas sim: “o que ainda faz sentido eu continuar aprendendo?”
Boa sorte aí, até a próxima. :)
NÃO ACABA AQUI.
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